Em pleno verão, em plena praia, eu percebi que ali cabia um mundo. O céu é azul. O mar é azul. O sol brilha e faz a areia queimar os pés. As ondas vão e acabam por voltar. Enrolam na areia e ganham força para derrubar qualquer objeto. Pessoa. As rochas enormes colocadas ao lado do paredão travam essa força. Os barcos que ficam em alto mar durante meses ou mesmo aqueles que só ficam algumas horas carregam a saudade de casa e o medo de uma mudança drástica do tempo. Os mais pequenos, à vela, que passeiam perto da costa carregam sorrisos. 
Sentei-me na areia e fixei aquele azul infindável. O mar transmite-me paz e senti-me calma. Por momentos não passa nada pela minha cabeça, fico apenas a observar aquele imenso azul. Fiz essa pausa algumas vezes só para observar o que se passava à minha volta e conheci um mundo. 
Na praia juntam-se culturas, línguas, crianças, adultos, idosos, cachorros, e alegria. Ouvi o português, o inglês, o espanhol e um pouco de italiano. Ouvi os risos das crianças mas também ouvi os choros e os berros. Ouvi apregoar as bolas de Berlim e a bolacha americana (doce muito conhecido em Aveiro). Ouvi o vento a fazer dançar a bandeira que nos diz como está o mar. Ouvi o toc toc da bola a bater nas raquetes, uma e outra vez. Ouvi conversas sobre o tempo, futebol, novelas, um ou outro famoso, sobre as suas próprias vidas. Vi crianças a comer areia, a fazer castelos, a jogar à bola, a correr, a gritar mas sobretudo vi crianças felizes. Tirando as birras do costume, estavam todas com um sorriso nos lábios. Vi pais com as máquinas fotográficas e com os telemóveis todos apontados aos pequenos para captar qualquer parvoíce. Ou apenas para recordar. Vi pessoas que logo pela manhã faziam a sua caminhada à beira mar, assim como eu. Outras, com mais coragem, corriam. Vi surfistas a combater ondas e a perder. Sempre que caiam, levantavam-se ainda mais depressa. 
Lembro-me de pensar que o surf era como a vida. Os obstáculos vinham contra nós e cada vez que caíamos, tínhamos que nos levantar depressa para não levar com o próximo obstáculo em cima. E ser persistentes para não desistir à primeira onda. Vi os pescadores no paredão a tentar a sorte. Uns por diversão, outros por necessidade. Uns para passar o tempo, outros para comer. À noite, o farol ilumina o caminho para aqueles que precisam de ser guiados. Queria ter um farol para iluminar a minha vida. Enquanto não o tenho, faço surf na vida.       

Comentários

  1. E é precisamente assim que penso: no sentido de organização e arrumação que o closet é capaz de trazer. Podemos não ter muita roupa mas está tudo à vista :D

    Escreves tão bem. Nem sabes o quão me revi nessas palavras. juro!

    NEW OUTFIT POST | That Uniforme: Black and Stripes
    InstagramFacebook Oficial PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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