Sei que fui feliz.

Parece que a noite não me traz sono, traz-me sonhos e lembranças. Lembranças de dias felizes, de momentos marcantes, de futuros inexistentes. Sempre foi assim mas ultimamente, todos os dias me lembro de algo do meu passado. Do meu passado com ele. Dele. De nós.
Crianças. Brincávamos na escola, apenas nós. Os outros distraíam-se mas nós brincávamos. Ele adorava legos. Construía, o que ele chamava de casas mas que não passava de um monte de peças de várias cores e formas encaixadas entre elas. Lembro-me de ele dizer uma vez que iria construir uma "casa de verdade" para nós. Éramos crianças.
Amigos. Realmente amigos. Os nossos dias eram passados a rir até chorar. O nosso cantinho em casa dele onde nos escondíamos do mundo e vivíamos. Ele deixava-me lá e ia comprar gelados. De morango para ele e chocolate para mim. O jardim ficava cheio de vida e de risos. O riso dele, tão interior e tão meigo ouvia-se no meu coração. Mais ninguém ouvia, todos diziam que ele era uma pessoa triste porque não o ouviam rir. Mentira, pura. Ele ria mais do que todos juntos mas ninguém conseguia ver isso porque se preocupavam demais com outras coisas. O baloiço partiu de tanto andarmos nele. Eu caí. Magoei o joelho. Ele ficou parado a olhar-me. Não se conseguia mover apesar de ter sido eu a magoar-me. Lembro-me de ele vir até mim e se sentar ao meu lado. Disse: "eu nunca gostei deste baloiço." E rimos, rimos tanto. Não sentia nada, parecia que o joelho se tinha curado. Crianças.
Um verão, já estávamos juntos, ele estava fora. Os pais precisavam de sair dali e levaram-no. Eu liguei-lhe e disse-lhe que estava triste e que precisava dele. Do outro lado, sentia apenas respiração. Sentia que ele estava lá mas não comigo. Parecia distante. No dia seguinte, recebo uma mensagem a dizer para ir ter ao nosso sítio porque ele tinha deixado lá uma coisa para mim. Quando cheguei lá, o que encontrei foi ele. Aí eu percebi, que ele me amava. Não tinha dito nada aos pais, simplesmente apanhou um autocarro e veio ter comigo. Acho que os pais dele começaram a odiar-me um pouquinho.
Nunca gostei de fazer nada por obrigação. Dias como o "dia dos namorados" que todos os casais anseiam para mostrar o amor que sentem. Eu acho uma estupidez. Quem ama, demonstra todos os dias. 13 de Fevereiro cheguei a casa e tinha um ramo de rosas vermelhas vivas em cima da minha cama. Tinha um cartão que dizia: "sei que não gostas do dias dos namorados e não gostas que te ofereça nada mas hoje não é o dia. amo-te." Ainda hoje não sei como ele conseguiu deixar lá o ramo sem a minha mãe saber.
Foram tantos os momentos que acho que preciso de todas as noites da minha vida para relembrar. Nunca vou nem quero esquecer o bom que foi tê-lo na minha vida. Sei que perdi um grande amigo e talvez ele fosse o "tal". Sei que nunca vou ter com ninguém o que tinha com ele. Sei que fui feliz.

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